jueves, 18 de enero de 2024

Idiosincrasia Boliviana

 Según Quispe (2018, 73-76)

Bolívia é um país com muitos matizes culturais, algumas veem desde a época

pré-hispânica e misturam-se com as costumes que foram trazidas desde Europa pelos desbravadores e os imigrantes das épocas posteriores.

A caraterística mais notória da idiossincrasia boliviana é a resistência. Pelos anos de subjugação espanhola que este país resistiu até sua independência. Ela encontra na sua cultura uma forma de resistência ao estilo de vida ocidental. Historicamente26, a música, a dança e até o cinema27 contribuíram para este fato. Embora, a cultura ocidental, com seu consumismo confronta a cosmovisão andina da proteção dos recursos naturais e a convivência harmoniosa com o meio ambiente; muitas vezes, acabou-a absorvendo com sua oferta de riqueza e prosperidade.

Na Obra de Arguedas (1919) “Raza de bronze” ele coloca o centro do sentir andino: "Nuestro destino es sufrir” quer dizer, “nosso destino é sofrer”. Vale, nesta nova construção da identidade, apontar que não se deve confundir o sofrimento com esforço.

Algo também muito próprio dos bolivianos em São Paulo é a costume de comer em casa com a família. Recentemente na Bolívia, devido à globalização, foi adquirida a costume das comidas rápidas, algo que não acontecia anos atrás, razão pela qual tal vez Mc Donalds não teve sucesso neste país. Quer dizer, que eles têm o costume de morar em famílias que moram perto uns dos outros e ajudam-se mutuamente no trabalho (Fato pelo qual foi fácil a assimilação do termo Comunidade Hispana) assim, a migração tem um rápido crescimento porque um familiar que chega ao Brasil traz os outros, pouco a pouco.

Além disso, tem-se a hora do chá. Ao redor das 18h se participa do chá. O jantar é servido pelo geral às 22h. Os domingos são familiares, tendo encontros esportivos, limpeza da casa e da oficina, lavado de roupas, compra de alimentos nas feiras dos bairros. Outros frequentam parques o quadras esportivas, principalmente de futsal para o lazer.

O supermercado é frequentado, mas com o tempo o Parque Dom Pedro começou a se aprovisionar de produtos vindos da Bolívia como Chunho, Mote, Ají Panca, quinoa. Os vendedores já estão bem acostumados com eles, principalmente os vendedores de batata e amendoim.

A permanência dos bolivianos em São Paulo gera relações de interdependência com todos os indivíduos que vivem nessa sociedade. (SILVA, 2011, p. 67). Existem muitos que dominam as línguas nativas como o Aymara e o quéchua.

Nesse sentido, devemos lembrar que, a língua não constitui o único indicador diacrítico da identidade étnica É possível recorrer a um vasto conjunto de elementos históricos ou culturais para afirmar a condição de indígena e definir o pertencimento de seus protagonistas. Os traços culturais que dão substância à identidade e lhe servem de argumento estão submetidos à historicidade que lhes é própria (BARTOLOME, 2006, p. 55).

O imigrante boliviano possui a língua espanhola de forma fluida; o português, eles conseguem entender, mas falam pouco. Nesse caso, a maioria entende a língua aymara, própria dos Andes, e alguns bolivianos falam a língua quíchua (própria também da área andina e do vale da Bolívia e outros países).

Cabe aqui notar que, no tempo da colônia espanhola o indígena aymara foi conquistado politicamente, mas não linguisticamente. (ANTONIO, 2017, p. 214) Sua vitalidade para resistir, sua linguagem e cultura comum, produziu um povo de consciência forte que se procura manter numa realidade urbana diferente.

O boliviano da região ocidental tem caraterísticas peculiares na sua personalidade: persistência, tenacidade e perseverança que o ajudam desenvolver a capacidade de liderança; mas também tem outras que limitam seu desenvolvimento que são: autoestima baixa, retraimento e falta de oportunidades. (ANTONIO, 2017, p. 215).

Em São Paulo, pela escassa ventilação nas suas casas e pela humidade, de acordo com registros das Unidades Básicas de Saúde da região central, a maioria dos acometidos por tuberculose é constituída de bolivianos, por conta dos trabalhos com a costura. (SILVA, 2011, p. 142).

Absortos pela vontade de juntar dinheiro e preocupados com as dívidas contraídas logo que chegam, os bolivianos passam a maior parte do tempo de suas vidas fechados nas oficinas/moradias que, além de tudo, têm pouca ventilação. Esses locais funcionam praticamente durante as 24 horas do dia, com os funcionários se revezando nas máquinas para cumprirem os curtos prazos de entrega acordados com os donos das oficinas, o que causa um aumento da temperatura interna das casas. Diante desse quadro, a higiene interna do local fica comprometida, e consequentemente alguns são acometidos por doenças relacionadas às atividades profissionais e às condições existentes nas residências. (SILVA, 2011, p. 171).

Enquanto aos estudos, pela jornada de 12, 14 ou 16 horas de trabalho, não sobra tempo para estudar, até porque teriam gastos com os estudos, e não e visto como uma prioridade. Este panorama muda numa segunda geração.

Tem curiosidade pelo novo. Isto se pode notar na incessante criatividade de modelos que são oferecidos por bolivianos na feira da madrugada e afirmados pela criatividade de grandes ícones da moda mundial como foi Beatriz Canedo28.

O perfil do migrante tem idade entre 25 a 35 anos, pelo geral têm um mínimo de dois filhos por família, com tendência a crescer. Uma caraterística particular e a figura do concubinato que é socialmente aceito.

A localização residencial em função do trabalho também ocorre, no caso dos bolivianos, pela conjugação desses espaços com a função de moradia. (SYLVAIN, 2008, p. 132) Ou seja, moram e trabalham no mesmo lugar. Nas oficinas de costura onde trabalham os bolivianos não se faz distinção de sexo, tampouco de idade.

Vemos homens, mulheres, adultos e jovens desenvolvendo as mesmas tarefas, até porque o que predomina na atividade é o manuseio de uma máquina que não necessariamente exige alto grau de força ou de destreza. O que prevalece nessas atividades é a resistência. (SYLVAIN, 2008, p. 130).

O lazer desenvolve-se nas quadras de futsal ou em algum parque da região. Cabe ressaltar um ponto importante do lazer dos bolivianos em São Paulo: “O futebol. Que tem profundos e inegáveis aspectos antropológicos, religiosos e psicológicos, que para serem comunicados fizeram dele uma linguagem.” (FRANCO, 2007, p. 182).

Segundo Silva (2011, p. 85) “quem busca o futebol está à procura de algo que, no seu trabalho diário, não pode ser alcançado”. Quando colocamos a palavra-chave “futebol” em sites de busca, a quantidade de páginas referentes ao tema fica em torno de 22 milhões. Só no Brasil esse número ultrapassa os seis milhões e, somado ao carnaval e à religião, que segundo Alex Bellos (ALVES, 2011, p. 83), forma a Santíssima Trindade da cultura popular brasileira. Chutar as amarguras numa bola, a globalização, a socialização dos dramas, é parte deste esporte.

Reafirma-se então que a identidade dos bolivianos em São Paulo, não deve ser buscada na originalidade de seus traços culturais, mas na capacidade desse povo para gerar sentidos sociais e políticos que o unificam na luta para definir sua razão de ser como povo (AGIER, 2001).


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