- A mudança epistemológica e a experiência;
- A mudança econômica e o consumismo;
- A mudança temporal até o presente;
- A mudança de comunicação para o ciberespaço; e
- A mudança espacial para a glocal.
1. Da mudança epistemológica à experiência
A condição pós-moderna atual apresenta uma implicação missiológica adicionada à missão urbana, assim como o pós-modernismo mostra interesse no reino além do conhecimento e observação. Os pós-modernistas de acordo com Donovan e Myors (1997, p. 51) preferem o que “é experiencial ao invés de cognitivo”. Como observado anteriormente neste estudo, ao rejeitar epistemologia iluminista, os pós-modernos acreditam que a razão humana não sustenta todas as soluções para os problemas da vida. Alguns aspectos da verdade se encontram além da compreensão racional e não podem ser completamente entendidos pela razão, afirmam os pós-modernos. Como resultado, um ceticismo profundo sobre a capacidade racional humana levou à aceitação de formas diversas de conhecimento. Isso envolve elementos como instinto, emoção, sentimento e intuição (SMITH, 2001, p. 4748; ver MCLAREN, 2000, p. 124). Em outras palavras, os pós-modernos não são guiados pela razão como anteriormente na visão de mundo moderno, “mas também querem saber como um evento ou objeto é experienciado” (SMITH, 2001, p. 48, grifo do autor).
Van Gelder confirma:
A geração que está sendo moldada pela crença pós-moderna confia tanto em seus sentimentos quanto em seus pensamentos. Na verdade, o caráter caótico e concorrente de numerosas alegações da verdade faz com que muitos se voltem para seus sentimentos, instintos e intuições como uma fonte mais segura e mais confiável do conhecimento […]. Pessoas pós-modernas querem muito mais experimentar a vida, do que entendê-la (VAN GELDER, 2002, p. 499).
Em uma sociedade pós-moderna, o envolvimento pessoal é tão importante quanto à riqueza material foi para gerações anteriores (TABB, 2004, p. 19).
A experiência tornou-se a nova moeda na economia pós-moderna. No entanto, é importante notar que essa mudança epistemológica não indica que o pós-modernismo é irracional. Leonard Sweet (2000, p. 33) afirma que “os pós-modernos não querem que suas informações sejam diretas. Eles a querem junto à experiência”. O conhecimento e a lógica, no entanto, ainda têm o seu lugar, mas não são mais os temas predominantes. No passado, o conhecimento foi validado por experimentação empírica, hoje, a experiência pessoal é validada pelo conhecimento (KIMBALL, 2004, p. 186). A cultura pós-moderna, como Terry Bowland (1999, p. 126) aponta, “se elevou ao mais alto nível de importância”. Como consequência, as decisões tomadas pelos pós-modernos, especialmente entre as gerações mais jovens, têm mais a ver com o que eles sentem do que com o que sabem (SMITH, 2001, p. 48). Além disso, a participação e as experiências interativas tornaram-se aspectos cruciais na vida de gerações pós-modernas emergentes.1 (1 O livro Generating Hope de Jimmy Long (1997, p. 17-79) indica a interação entre a literatura no pós-modernismo na chamada Geração X. Ao trazer as duas análises em conjunto, Long constitui a base para as suas propostas práticas sobre como alcançar os pós-modernos.)
Este fato tem implicações profundas na forma como os pós-modernos aprendem, comunicam e interagem com o mundo ao seu redor. Um exemplo claro é a forma como o público telespectador anseia em participar de programas de jogos na televisão, programas de notícias e reality shows através do telefone ou de contas na internet para votar ou opinar sobre o resultado do programa (KIMBALL, 2003, p. 155-156; ver HERANGI, 2002, p. 5-6). Outro exemplo dessa experiência interativa vem do mundo dos negócios. No passado, apresentar informações sobre um produto era suficiente para vendê-lo. Em The Experience Economy, no entanto, Joseph Pine e James Gilmore defendem a importância de vender “a experiência” de um produto antes de vendê-lo. Eles afirmam: “Quando você personaliza uma experiência e a direciona apenas para um indivíduo — fornecendo exatamente o que ele ou ela precisa agora — você iniciou-o automaticamente em uma transformação” (PINE; GILMORE, 1999, p. 165). É a experiência de um produto, portanto, que produzirá uma impressão duradoura, criando, em última análise, uma transformação no indivíduo (PINE; GILMORE, 1999, p. 172). No contexto da missão urbana, a mudança epistemológica e a experiência têm profundas implicações. A vida urbana é repleta de ofertas para diferentes experiências e possibilidades, que, na maioria dos casos, simplesmente tendem a levar os indivíduo para mais longe de Deus. Em consequência, a igreja urbana pretende se comunicar de forma eficaz com a mente pós-moderna; a fim de ganhar sua atenção deve aprender a ir além do nível intelectual. Deve-se levar em consideração a relação dinâmica entre as dimensões intelectual e experiencial da vida humana. Como Bowland (1999, p. 126) pondera, a igreja tem “que levar em conta que as pessoas no mundo pós-moderno de hoje querem experimentar o que [isso tem] a oferecer. Se eles não podem experimentar, é provável que nunca aceitem ”. Por outro lado, a igreja urbana não deve esquecer que parte do colapso da visão de mundo moderno envolve o dualismo entre pensamento e emoção. Ambas vitais na missão, “mas não contam toda a história por si só” (POE, 2001, p. 62). Eles devem ser vistos como complementos essenciais na proclamação do evangelho para a mente pós-moderna. A busca pós-moderna por experiência tem, em certa medida, alimentado outra questão que carrega implicações missiológicas para a igreja urbana: o consumismo.
2. Da mudança econômica ao consumismo
O pós-moderno equivalente ao lema iluminista, Cogito, ergo sum poderia muito bem ser expressa como, Tesco, ergo sum: “Compro, logo existo” (MERCER, 1995, p. 325).
O consumismo pós-moderno é marcado pela constante expansão do marketing e das ferramentas de publicidade, no esforço de estabelecer e controlar mercados, e também no processo ativo de oferecer prazer e significado como uma nova fonte para encontrar sua identidade pessoal (MACKEY, 1997, p. 1-12).
Sampson escreve: “Produtos são valorizados mais pelo que significam do que pela sua utilidade, fazendo com que as pessoas encontrem significado no próprio ato de consumo”.
A imagem publicitaria e os produtos tornaram-se bens de consumo para satisfação própria, e não como representação de produtos reais (SAMPSON, 1994, p. 31).
Indignado, Mercer (1995, p. 329-330) acrescenta:
"Por que preciso escolher entre 83 tipos diferentes de cereais no café da manhã? Por que eu estou vestindo a moda desta temporada? Por que tantos milhões de ocidentais adoram as vitrines espelhadas dos shoppings a cada sábado e domingo? Porque é na escolha e na compra que eu encontro identidade e aceitação […]. Esta é a ilusão de liberdade que o capitalismo tardio nos oferece. Baseia-se na ideia de que ‘o amor ao dinheiro’ é o único dinamismo através do qual a economia mundial pode funcionar. Então, se eu não posso escolher e comprar porque sou ‘menos favorecido’, devo então procurar por identidade e aceitação em outros lugares, ou caso contrário me desesperar. O ‘outro lugar’ pode ser a religião, drogas, sexo, rock’n’roll, violência ou a mistura de todos."
Em consequência, especialmente entre os jovens, a maneira que eles consomem é parte fundamental para expressar o tipo de pessoas que são, e do tipo de pessoas que eles representam para os outros (WYN; WHITE, 1997, p. 86). Gunter e Furnham (1998, p. 170) afirmam, “os jovens consumidores querem produtos e serviços que proporcionem algo, que os faça parecer ou se sentire melhor, ter mais diversão e ser mais bem aceito dentro de seu grupo de amigos”. Shoppings, podem muito bem simbolizar uma nova forma de comunidade urbana onde, em última instância, as pessoas interagem umas com as outras apenas para satisfazer seu vício de comprar. Cray (1998, p. 5) confirma: “O consumismo foi construído para ser viciante […] o desejo pelo que é ‘mais recente’ é continuamente estimulado e a economia do consumidor trabalha apenas para a criação de uma cultura de insatisfação ao invés de contentamento ”. Neste contexto, o valor fundamental de uma sociedade de consumo pós-moderna se torna uma escolha pessoal. “Escolher [é] o centro do consumismo, ambos como emblema e valor central” (GABRIEL; LANG, 1995, p. 27). O pressuposto básico é o de que todas as pessoas podem realizar qualquer coisa que tenham em mente; é apenas uma questão de escolha pessoal. Na condição pós-moderna, a escolha pessoal tem substituído o “progresso” da modernidade assim como o valor principal e as crenças (CRAY, 1988, p. 6). Assim, uma nova forma de individualismo surge, uma que leva ao isolamento; que por sua vez remonta ao consumismo como forma de suprimir os efeitos negativos da solidão. Eventualmente tornando-se um ciclo vicioso (ver FRAZEE, 2001, p. 177-179). (Frazee (2001, p. 179) sugere, “Quanto mais nós estamos obcecados a aplicar o consumismo como solução para a nossa solidão, mais se alimenta a mentalidade individualista”.)
Consumismo também tem um lado espiritual, ou uma dimensão anti-espiritual. Um estudo sociológico aponta que o prazer da mentira está no coração do consumismo. Ele encontra no consumismo um único campeão que promete libertá-lo tanto da escravidão do pecado, do dever e moralidade, quanto dos seus laços com a fé, espiritualidade e a redenção. O consumismo proclama o prazer não apenas como direito individual, mas também como uma obrigação própria […] A busca do prazer, sem nenhuma culpa ou vergonha, se tornou a nova imagem da boa vida (GABRIEL; LANG, 1995, p. 100).
Igrejas urbanas e organizações missionárias devem ter cuidado para não cair no padrão social do consumismo pós-moderno, onde “o cliente reina e os produtos se moldam de acordo com seus desejos” (DOWSETT, 2000, p. 459). Muitos cristãos que vivem em centros urbanos, por infelicidade, têm seguido este caminho. Preocupado com o seu comportamento, Jimmy Long (1997, p. 97) escreve: “Em vez de tornar-se parte de uma comunidade cristã, eles frequentam duas ou mais igrejas em busca de atender suas necessidades pessoais. Assim eles permanecem espectadores ou consumidores em cada igreja”. Por conseguinte, como a missão urbana alinha-se com a mentalidade consumidora, seus métodos e estratégias podem tornar-se cada vez mais baseados na motivação pessoal.
3. Mudança temporal
Em contraste com o pré-modernismo e a visão de mundo moderno — o primeiro estabelece um sentimento comum de crenças na autoridade do passado, e este último em uma confiança ideológica no futuro — a condição pós-moderna é marcada pela desilusão sobre o que aconteceu antes e a incerteza sobre o que vem a seguir. Mark C. Taylor (1984, p. 3) acredita que os pós-modernos, “parecem ser inseguros sobre de onde vieram e para onde estão indo”. Graham Cray (1998, p. 7) constata: “a pós-modernidade perdeu a certeza de sua esperança no futuro e não conseguiu redescobrir qualquer sentido coerente de embasamento no passado”. Uma vez que a condição pós-moderna tende a enfatizar a atualidade como a dimensão mais importante da vida humana, o “agora” tornou-se tudo o que existe e tudo o que importa.
Van Gelder (1996b, p. 136-137) concorda: “O caráter perspectivo da perspectiva pós-moderna tende a concentrar a atenção sobre o ‘agora’ da vida como a única realidade importante […]. Isso resulta em uma perda de perspectiva histórica e consciente do caráter contingente de toda a existência humana” (ver BROWN, 2001, p. 160). Como resultado direto, as pessoas pensam menos em relação às consequências relacionadas às suas decisões e ações, e, assim, os conceitos de moralidade e responsabilidade são profundamente afetados (GUDER, 1998, p. 45). Além disso, uma desequilibrada ênfase na presente dimensão pode levar a questões críticas sobre a identidade pessoal e comunitária (CRAY, 1998, p. 7-8). Mercer (1995, p. 333) escreve:
4. Do deslocamento da comunicação ao ciberespaço
Na tentativa de abordar a condição pós-moderna com o evangelho, a igreja urbana deve se engajar em uma comunicação eficaz, especialmente porque a comunicação sempre influenciou a forma como a igreja proclama a sua mensagem. (Para melhor entendimento da importância da comunicação na proclamação do evangelho (ver BABIN; IANNONE, 1991, p. 70-109).
O mundo ocidental, no entanto, está passando por uma das revoluções mais significativas da história da humanidade: a revolução das comunicações (CAIRNCROSS, 2001, p. 2). A evolução tecnológica nas comunicações tem avançado com uma velocidade incrível durante as últimas décadas com a crescente integração dos sistemas de computador nos meios de comunicação. De acordo com Frances Cairncross (2001, p. 2), a revolução das comunicações “estará entre as mais importantes forças que determinaram a […] sociedade nos próximos cinquenta anos mais ou menos”. (Por exemplo, o impacto e a velocidade da revolução das comunicações é claramente perceptível na diferença entre as legendas de uma edição anterior de The Death of Distance (1997), publicado apenas quatro anos antes)
No mundo moderno, a comunicação ocorreu principalmente através do conhecimento cognitivo. Palavras, tanto na forma oral quanto escrita eram o meio dominante de comunicação. Na condição pós-moderna, a comunicação mudou para uma forma mais interativa que gera conhecimento através da participação pessoal (WEBBER, 2003, p. 24). Inquestionavelmente, esta mudança tem implicações irreversíveis para a missão urbana em uma condição pós-moderna emergente. Para Drummond (2002, p. 120), “apesar da complexidade da questão, o obstáculo que a comunicação apresenta a missão pode ser descrita simplesmente pela necessidade da igreja de usufruir a onda comunicativa nesse novo segmento da sociedade”.
Para o propósito deste estudo, o ciberespaço refere-se à internet e a Web. Embora, tanto a internet como a Web tenham surgido no final de 1980 e início de 1990, estes novos meios de comunicação pode ser visto como uma continuação de dois avanços tecnológicos mais velhos: o computador pessoal e o vídeo game. A primeira geração de pós-modernos, cresceu interagindo com essas máquinas e sua rápida adaptação ao ciberespaço está diretamente ligada a esta experiência tecnológica (veja BEAUDOIN, 1998, p. 42-45).
Neste contexto, o ciberespaço está se tornando o mecanismo de comunicação pós-moderna por excelência, especialmente por causa de sua forte influência sobre os pós-modernos (DRUMMOND, 2002, p. 120).
Como um componente fundamental da revolução das comunicações atual, o desenvolvimento do ciberespaço é cada vez mais reconhecido como “uma das maiores invenções da história da civilização” (SWEET, 2000, p. 115).
Nunca antes uma nova invenção havia surgido tão rápido da “obscuridade para a fama global” (CAIRNCROSS, 1997, p. 75).
Cairncross (1997, p. 76) afirma que o ciberespaço oferece “um mundo em que a transmissão de informação custa praticamente nada, que a distância é irrelevante e que qualquer quantidade de conteúdo é instantaneamente acessível”.
Além disso, o ciberespaço é visto como uma ferramenta poderosa para a mudança social entre os pós-modernos (ver SWEET et al., 2003, p. 155-156).
Rob Weber afirma: "A quantidade de informações que recebemos e as diferentes oportunidades de acesso aumentam drasticamente a cada dia. É impressionante quanta informação nos é apresentada de forma regular […]. O acesso a quase todas as culturas, filosofias, sistemas religiosos e grupos de interesse estão apenas a alguns cliques de distância. A internet não é apenas uma fonte passiva de informações (a nossa espera); ela está vindo até nós através do envio de e-mail ‘spam’, informações de rastreamento e anúncios pop-up. Estamos sendo inundados por uma tempestade de histórias, imagens e informações"(WEBER, 2002, p. 27).
Primeiro, ele cria uma realidade virtual onde o espírito pós-moderno da ficção embasada com a realidade é facilmente alcançada. Na realidade virtual não existem barreiras temporais ou espaciais; e qualquer um pode estar em qualquer lugar em qualquer momento (ver MERCER, 1995, p. 323).
Segundo, ele responde a um dos principais desejos dos indivíduos que buscam uma experiência de realidade virtual: a velocidade.
Beaudoin (1998, p. 86-87) afirma que a busca por uma velocidade “perfeita” no ambiente de ciberespaço “garantiria uma simulação possivelmente ‘real’ e, portanto, permitiria a presença em um reino que está além dos limites da realidade”.
Portanto, em uma sociedade urbanizada e pós-moderna, a igreja urbana deve estar aberta para o ciberespaço como um novo sistema de entrega de informação. Porém, ao mesmo tempo, a igreja urbana deve estar ciente de que quanto mais conectadas eletronicamente, mas desligadas se tornam pessoalmente (SWEET, 2000, p. 115).
Na busca pós-moderna por uma experiência on-line para satisfazer a solidão de uma existência desligada, é responsabilidade da igreja urbana fornecer opções e direção para as relações sociais no ciberespaço, o que de acordo com Sweet et al. (2000, p. 156), “os modernos não podem sequer começar a compreender”. Além disso, com o espaço cibernético proliferando em todo o globo, as dimensões espaciais local e global se fundem e se tornam cada vez mais próximas (BEAUDOIN, 1998, p. 57).
5. Da mudança espacial à glocal
Outra implicação importante à missão urbana em uma sociedade pós-moderna vem através da disseminação do impacto da globalização: o conceito de glocalidade.
Descrevendo o impacto da globalização na cultura ocidental, Samuel Escobar escreve: “Por causa da expansão da cultura ocidental durante os séculos 19 e 20, através da mídia e educação, por exemplo, todo graduado em uma universidade em qualquer parte do mundo de hoje, assimilou elementos centrais da cultura ocidental. A tecnologia que faz parte do nosso mundo globalizado tem hábitos ocidentalizados, formas de relacionamento, formas de se movimentar e comunicar a nível mundial. Consequentemente, as características culturais que incluem as tendências que chamamos de pós-moderna […] estão se espalhando por todo o mundo e em diferentes culturas, coexiste e interage em um processo de transição” (ESCOBAR, 2003, p. 71, ver FRIEDMAN, 2000, p. 236-239).
A glocalidade descreve a interação entre influencia global e ênfase local. William Lim escreve;
O conceito de glocalidade envolve e define local e global. Isso requer continua interação de ambos e sua frequente junção de fronteiras […] A glocalidade abrange um vasto leque de preocupações em relação a pobreza, meio ambiente e qualidade de vida, como a problemas relacionados com a subalternização bem como novas direções em urbanismo, arquitetura e as artes. A força motriz é criadora de rebeldia com fortes compromissos com a justiça social. A solução é pluralista e sua principal característica é a tolerância das diferenças (LIM, 2001, p. xv).
Os pós-modernos reconhecem que em uma comunidade global a identidade local não pode ser negligenciada. (Tim Chester (2001, p. 17-18) aponta que “as forças criadas pela globalização são uma nova realidade com a qual a igreja deve lutar. Em um sistema integrado, liberalizar decisões da economia global sobre uma fábrica na Cidade do México pode ser feito em Genebra mudanças no mercado em Londres pode afetar as economias rurais na Índia. A velocidade das novas tecnologias de informação e comunicação amplificam esse processo de causa e efeito global, enquanto acelera sua difusão. Com a globalização, a economia alcança até a globalização cultural, especialmente os centros urbanos de rápido crescimento em nosso mundo. Estamos caminhando para uma situação em que os moradores urbanos de todo o mundo terão mais em comum uns com os outros do que com os habitantes rurais em seus próprios países”)
Este fato é perceptível em tendências como moda, entretenimento e música onde existem fortes ligações entre local e global, o que reforça a ideia de glocalidade. Gerações pós-modernas emergentes estão localmente sensíveis, bem como conscientes globalmente. Já não percebem as coisas somente pelo seu contexto local.
As implicações de glocalidade no contexto da missão urbana para uma condição pós-moderna são significativas. A igreja urbana precisa aprender a se comunicar com a mente pós-moderna com uma consciência local e global ao mesmo tempo.
Andrew Davey (2002, p. 39) concorda: “Os pontos fortes da igreja devem situar na sua capacidade de manter o local e o global em sua própria tensão dinâmica em que visa a prática da liberdade humana na presença de Deus em qualquer condição humana que se encontra no nível local, nacional, regional e global”.
A igreja urbana precisa, portanto, entender e perceber a sua responsabilidade e potencial de conexão, além de afirmar as comunidades e indivíduos nos elementos locais e globais da condição pós-moderna. Um determinado esforço da parte da igreja vai permitir que ela se torne uma comunidade de pessoas que demonstram interesse com as preocupações glocais dos pós-modernos. Aqui, a igreja urbana tem a oportunidade e a responsabilidade de expressar a sua natureza global no contexto de uma comunidade local. Esta é também uma forma poderosa de se conectar com a mente pós-moderna (WEBBER, 2003, p. 133).
Na segunda parte deste capítulo, são abordados alguns princípios propostos para uma missão urbana sensível ao pós-modernismo.
Princípios propostos para uma missão urbana.
Assim como a diferença entre missionários transculturais e a cultura destinada pode apenas ser superada através do uso cuidadoso da comunicação, se a igreja urbana deve ser bem sucedida em comunicar o evangelho para os pós-modernos é essencial entender a perspectiva pós-moderna e alguns dos princípios que podem ser usados para produzir um diálogo.9
Esta última seção recomenda princípios selecionados que devem ser levadas em consideração em uma missão urbana sensível ao pós-modernismo. Entre eles estão os princípios comuns, empírico, antigo para o futuro, de integração e de narração.
A. Princípio da comunidade
Aproximadamente 15 anos atrás, refletindo sobre a conferência de 1989 da Comissão de WCC para a Missão Mundial e Evangelização, em San Antonio, Texas, o missiólogo David Bosch (1989, p. 137) observou o surgimento do tema de comunidade declarando que “a procura da comunidade vai passar a ser um dos principais temas missiológicos” nos próximos anos. Com o surgimento da condição pós-moderna em mente, Bosch (1991, p. 472) reforçou seu argumento na Transforming Mission, afirmando que “é a comunidade a principal portadora da missão”.
Van Gelder (2000b, p. 37) afirma: “possíveis pontes estão disponíveis para aqueles que querem ser missionários para as pessoas que vivem dentro da visão de mundo do pós-modernismo. Procurar por tais pontes é um som de princípio missiológico e a história das missões está cheia de exemplos de como isso tem funcionado ao longo dos séculos”.
Além disso, no final de seu livro publicado posteriormente em missiologia para a cultura ocidental, Bosch (1995, p. 60) escreveu:
A questão sobre a viabilidade de um empreendimento missionário para as pessoas ocidentais depende da questão da natureza e da vida das nossas comunidades de adoração locais na medida em que facilitam um discurso no qual o envolvimento das pessoas com a sua cultura é incentivado.
Por outro lado, o reconhecimento do fracasso do culto moderno individual também deu origem à tomada de consciência da importância da comunidade. Estudiosos têm reconhecido a necessidade de compreender melhor a relação entre os aspectos individuais e sociais da existência humana (GRENZ, 1992, p. 20). No que parece ser uma contradição, os pós-modernos querem ter a liberdade individual, mas no contexto da comunidade.
Leonard Sweet (1999, p. 34) apresenta um paradoxo afirmando que “a busca pelo individualismo levou-nos a este lugar de fome por comunidade.” Van Gelder (2000b, p. 38) acrescenta: A busca por pertencimento A condição pós-moderna foi marcada pelos efeitos das circunstâncias familiares disfuncionais, (Celek e Zander (1998, p. 15-21) apontam o fato de que a dissolução dos valores da família levou a geração pós-moderna emergente a se sentir sozinha, abandonada e alienada (ver HAHN; VERHAAGEN, 1998, p. 15-21; 1996, p. 35-43) que, em grande parte, leva gerações pós-modernas mais jovens a procurar por pertencimento em locais alternativos. (De acordo com Myers (2003, p. 25), o pertencimento acontece quando os indivíduos “identificam [sic] com outra entidade uma pessoa ou organização ou talvez uma espécie, cultura ou grupo étnico”. Por exemplo, a popularidade do sitcom Friends como um dos cinco programas de TV mais assistidos de todos os tempos, demonstra claramente como a busca por pertencer é uma questão importante na condição pós-moderna. Comentando sobre o sucesso deste programa de TV, Grenz (1999, p. 48) afirma: “Entre bem e mal esses amigos riem juntos, ferem um ao outro e também se apoiam. Mas acima de tudo a amizade que eles compartilham dá sentido às suas vidas. A mensagem central da série é retirada da música tema do programa, ‘I’ll Be There for You’ que expressa abertamente à experiência [pós-moderna], ou seja, que a realidade da vida está muito longe de nossas expectativas […]. O coro, no entanto, expressa o antídoto para a solidão, sofrimento e fragilidade da vida. Cada membro do pequeno círculo de amigos promete estar “lá” pelo outro, porque — citando a última linha da música — você está lá para mim, também”)
Na maioria dos casos esta é uma busca por raízes, uma busca por família e amigos (CALLAHAN, 1990, p. 102)
Em última análise, os pós-modernos esperam encontrar o que pode satisfazer seu anseio mais profundo: um lugar onde eles podem pertencer e serem aceitos. Além disso, parece que o colapso da visão de mundo moderno tem realmente criado um desejo não apenas por uma comunidade, mas por intimidade (LONG, 1997, p. 137) em um contexto onde as pessoas podem ser aceitas e valorizadas como elas são. Por outro lado, os pós-modernos muitas vezes entram em relacionamentos que lhes garantam um sentimento de pertencer, mas no final só aumentam o sentimento de desespero e alienação. Por exemplo, não é surpreendente que as pessoas mais jovens estejam obcecadas por sexo, visto que lhes proporciona a oportunidade de intimidade física e emocional sem os riscos de dano emocional que vêm através do compromisso e da vulnerabilidade. (Por exemplo em Prozac Nation, uma autobiografia, Elizabeth Wurtzel (1995, p. 59) relata sua promiscuidade sexual na adolescência como uma forma de fugir da solidão e da rejeição. Por exemplo, em um parágrafo revelador ela admite que agradeceu a Deus pelo dom incrível de ser capaz de dar e receber prazer sexual)
A intimidade pós-moderna está procurando estender uma dimensão horizontal em direção a relações humanas e uma dimensão vertical em direção ao sagrado ou o espiritual (WUTHNOW, 1994, p. 51). Do ponto de vista da missão cristã, portanto, a busca pós-moderna por espiritualidade é em última análise a busca de um relacionamento com Deus, que por sua vez, pode ser satisfeito pela experiência de pertencer a uma comunidade de seguidores de Deus — a igreja (GRENZ, 1999, p. 46).
B. A igreja urbana como uma comunidade de pertencimento
Portanto, se levado a sério, o desenvolvimento de uma autentica comunidade cristã através da igreja local será a fundação relacional básica para a missão urbana e o quadro básico para o ministério em um ambiente pós-moderno.
C. Princípio experiencial
A busca por experiência espiritual é uma das tendências características no mundo ocidental no início do século 21 (ver SWEET, 1992, p. 33). Os pós-modernos, afirma Sweet (2000, p. 49), “estão famintos por experiências [espirituais]”. No entanto, este aparente interesse em questões espirituais tem mais relação com o sentimento pessoal do que com o interesse em verdades espirituais. Os pós-modernos podem estar interessados em desvendar os problemas que machucam o coração, mas podem não estar interessados em desenvolver crenças para a sua mente. A igreja urbana, portanto, deve tomar em consideração o desenvolvimento de experiências espirituais que sejam tangíveis e reais. Partilhar nossa experiência com Deus pode ser mais eficaz do que tentar convencer as pessoas que elas devem acreditar em Jesus ou na Bíblia. Assim, como Richardson (2000, p. 51) aponta, para a mente pós-moderna “experiência vem antes de explicação”. No entanto, é importante enfatizar que a experiência não substitui explicação, mas deve ser experimentada antes.
Van Gelder (2002, p. 499) concorda que esse “encontro experimental precisa ser equilibrado com uma compreensão inteligível da fé”.
Uma abordagem sensível ao pós-modernismo para a missão urbana não deve tornar-se anti-intelectual e renunciar a tudo que foi alcançado pela visão de mundo moderno baseado no Iluminismo. Grenz (1996, p. 169) afirma:
Neste novo contexto para a missão, a igreja urbana local deve disponibilizar um ambiente em que a partilha de uma experiência pessoal com Deus pode ser discernida de maneira tangível. Para este fim, em uma sociedade ocidental orientada cada vez mais por imagem, uma experiência multissensorial com Deus pode ser de profunda relevância para a mente pós-moderna.
D. A busca por experiência visual
Jim Wilson (2002, p. 24) ressalta que neste novo contexto cultural, os pós-modernos que buscam por uma experiência espiritual não são crentes na “palavra”, mas pessoas que estão procurando razões para acreditar ou princípios a seguir — ou seja, são guiadas pela ‘imagem’ que por muito tempo procuram sincronizar a sua alma com Deus através da beleza, ritmo e intuição. Eles preferem a “imagem” a “mil palavras”.
Na cultura pós-moderna emergente, portanto, o uso de metáforas e a busca por conceitos visuais são elementos primordiais no processo de comunicação e os mesmos princípios e proposições cognitivas chegaram à era moderna. Sweet (1999, p. 34) concorda, “proposições são perdidas em ouvidos pós-modernos; mas metáforas são ouvidas e imagens são vistas e entendidas” (ver SWEET et al., 2003, p. 155). No atual ambiente orientado pela imagem, contudo, a igreja de um modo geral não começou a abordar esta tendência de comunicação de forma adequada (ver DOWSETT, 2000, p. 458).
Infelizmente, a missão da igreja para as culturas pós-modernas enfrentou sérios problemas por sua incapacidade de adaptar seus métodos para esta nova tendência. Na maioria dos casos, as igrejas urbanas ainda estão abordando os pós-modernos da maneira tradicional, insistindo apenas na utilização de palavras.
Uma vez que a condição pós-moderna emergente produz uma geração que aprende visualmente através da televisão, filmes e internet, a igreja deve tornar-se tridimensional em seus métodos de ensino incorporando elementos visuais não como um substituto para as palavras, mas em apoio a elas (KIMBALL, 2004, p. 188). Estas novas formas de comunicação, afirma Stephens (1998, p. xii), “deve ser reivindicad[a] como um método visual distinto para compartilhar o evangelho”.
Assim, a lição para a igreja é simples: imagens criam emoções e as gerações pós-modernas vão responder à experiência que elas criaram (SWEET, 2000, p. 86). Anderson (1992, p. 21) aponta: “O velho paradigma ensinou que se você tiver o ensino correto, você vai poder experimentar Deus. O novo paradigma diz que se você experimentar Deus, você terá o ensino correto”.
Na condição pós-moderna, portanto, a verdade é também expressa em imagens (GUDER, 1998, p. 37). (Essa é, provavelmente, um dos principais objetivos por trás da saída da MTV e da indústria do cinema em sua tentativa de fornecer “respostas” às perguntas que os pós-modernos estão fazendo por meio da experiência (ver DRANE, 2000, p. 154; SWEET, 1999, p. 34)
Mesmo assim, a visão é o único elemento que a igreja sensível ao pós-modernismo deve oferecer para um encontro experimental com Deus. Cada vez mais, algumas igrejas urbanas têm empregado o que é chamado de experiência “total” ou “multissensorial” em suas reuniões de adoração a fim de atrair os pós-modernos para a mensagem do evangelho.
E. A igreja urbana como experiência multissensorial
Os seres humanos foram criados por Deus com a capacidade de experimentar o mundo que nos rodeia através dos nossos cinco sentidos. No contexto de culto e adoração, Kimball (2003, p. 128) alega: “Deus nos criou como criaturas multissensoriais e escolheu revelar-se a nós através de todos os nossos sentidos. Portanto, é natural que adoremos usando todos os nossos sentidos”. Este fato é ainda mais significativo na condição pós-moderna. Os pós-modernos estão procurando por um envolvimento espiritual que vá além de mero entretenimento (CELEK; ZANDER, 1996, p. 67). Eles estão à procura de uma experiência espiritual que envolve todos os sentidos (ver KITCHENS, 2003, p. 51). Por esta razão, experiências de adoração multissensoriais são extremamente atraentes para a mente pós-moderna.
Gerações pós-modernas, afirma Kitchens (2003, p. 50-51), “não estão interessadas em um contato ‘mental’ […] de adoração que pode uma vez ter apelado aos cristãos modernos. Eles simplesmente querem experimentar e sentir a presença de Deus na adoração”. Hudson (2004, p. 66) afirma: “A adoração na era moderna está totalmente focada no aprendizado sobre Deus. Na era pós-moderna a adoração focou no experimentar Deus. Os pós-modernos veem a adoração como uma questão do coração e não da cabeça”. Em toda a Escritura, Deus usou eventos multissensoriais para melhorar o ensino verbal (KIMBALL, 2003, p. 188). A experiência bíblica de adoração — como representada tanto no santuário do AT quanto no templo em Jerusalém — era muito mais do que apenas ouvir as palavras de uma mensagem que está sendo apresentada. Estas experiências de adoração retratam com representações gráficas de cor, sabor, cheiro, espaço e ação na adoração (por exemplo: Êx 25-28; Nm 16; Lc 1: 9-10). Em Apocalipse 4, por exemplo, “a linguagem utilizada invoca emoção e humor pela sua descrição estética do trono de Deus no céu” (KIMBALL, 2004, p. 81).
Em termos práticos, a adoração multissensorial inclui ver, ouvir, provar, cheirar, tocar e experimentar. Na busca de proporcionar um ambiente no qual uma experiência experiencial/multissensorial de Deus é possível, igrejas sensíveis ao pós-modernismo emergente devem envolver reflexão, silêncio, canto, pregação, e o uso das artes em suas celebrações de adoração. (Para obter informações adicionais sobre os aspectos práticos de planejamento e criação de uma experiência de adoração multissensorial ver Kimball (2003, p. 155-178; 2004, p. 99-113), Kim Miller (1999, p. 13-34), Michael Slaughter (1998, p. 13-29) e Len Wilson (1999, p. 18-36).
F. O conceito de futuro antigo
Outra tendência significativa que surgiu entre as igrejas sensíveis ao pós-modernismo é uma reincorporação do antigo pensamento e práticas cristãs nas expressões religiosas contemporâneas. Na Inglaterra, esta abordagem é chamada de “ortodoxia radical”; na Nova Zelândia e Austrália é descrita como “culto alternativo”; na América do Norte é identificada como “futura antiga fé” (SWEET, 2000, p. 46). De acordo com Robert Webber — um dos principais defensores do “princípio futuro antigo” — a principal proposição por trás dessa nova tendência reside no fato de que “o caminho para o futuro atravessa o passado” (WEBBER, 1999, p. 7).(Doug Pagitt (2003, p. 28) concorda com Webber afirmando que “a nossa visão atual e futura para a igreja não pode ser formada sem um sentido de visão do passado. É através de nossa comunidade histórica que somos lembrados, guiados, ensinados e levados nos caminhos de Deus. Somos obrigados a entrar no contexto daqueles que têm servido, amado e acreditado antes de nós. Portanto, devemos sempre nos firmar na história e nas tradições da comunidade cristã que vieram anteriormente”.)
Em outras palavras, é uma tentativa de reintroduzir o cristianismo clássico no contexto da condição pós-moderna emergente. A iniciativa de reafirmar o cristianismo primitivo a fim de reavivar a presença da igreja nas culturas contemporâneas não é um novo desenvolvimento. O mesmo aconteceu durante a Reforma Protestante do século 16 (WEBBER, 1999, p. 25). No entanto, a reforma testemunhou uma reação massiva contra o suntuoso simbolismo da igreja católica e, como consequência direta, “o bebê foi jogado fora com a água do banho; o simbolismo da adoração sensorial foi totalmente rejeitado em vez de ser reinventado"(STETZER, 2003, p. 147). Stetzer (2003, p. 147) assinala que, “em muitos aspectos, o desejo pós-moderno é imitar a ação da Reforma, mas não sua essência.
A recuperação da fé experiencial do passado com seus símbolos sagrados e doxologia compartilhada, une pessoas de uma forma que não é familiar para uma sociedade individualista”. A procura pelo significado e a importância da vida em meio à característica fragmentada e isolada das sociedades urbanas ocidentais abriu a porta para uma redescoberta do cristianismo clássico.
Como resultado, Webber (1999, p. 27) afirma que “o tipo de cristianismo que atrai a nova geração de cristãos e fala de forma eficaz para um mundo pós-moderno é aquele que enfatiza verdades primárias e autêntica personificação”, como experimentado nas antigas tradições da igreja primitiva.
G. A busca por significado
Em uma sociedade urbana cada vez mais pluralista e dinâmica, um sentimento de desenraizamento e ansiedade têm contribuído para a busca de um sentido de significado, especialmente entre as gerações pós-modernas mais jovens (GIBBS, 2000, p. 163). Como resultado direto, essa busca por significado tem atraído os pós-modernos a práticas litúrgicas antigas de espiritualidade; como um retorno à “tradição”, não ao “tradicionalismo” (GIBBS, 2000, p. 163).(Contrastando “tradição” com “tradicionalismo”, o historiador Jaroslav Pelikan (1984, p. 12) aponta que “a tradição é a fé viva dos mortos [e] o tradicionalismo é a fé morta dos vivos.”)
A rejeição pós-moderna da religião institucionalizada claramente se opõe ao formalismo e linguagem incompreensível do tradicionalismo da igreja; no entanto, ao mesmo tempo, os pós-modernos procuram redescobrir os elementos espirituais da antiga tradição cristã. Gibbs (2000, p. 161) destaca: “Esta atração é destacada pelo desejo de jovens em firmar raízes que compensem a transitoriedade e fragmentação do mundo em que eles cresceram”. A associação com o valor estabelecido e a riqueza da tradição cristã — especialmente quando reforçado em experiências multissensoriais — traz os pós-modernos para ao ponto de poder envolver-se na jornada de conhecer a Cristo e experimentar as alegações do Cristianismo, assim como procurar o significado e a verdade para suas próprias vidas (STETZER, 2003, p. 147).
A atração que as disciplinas espirituais antigas e os símbolos têm sobre a mente pós-moderna pode ser um elemento eficaz em uma comunicação relevante na mensagem do evangelho, especialmente entre as gerações mais jovens (JONES, 2003, p. 4-7).
A mudança de filosofia da razão para o mistério fornece uma abertura para a discussão de uma visão sobrenatural da igreja conectada à obra de Cristo.
A mudança do individualismo à comunidade é uma mudança cultural que nos permite falar mais uma vez do significado da igreja como um reflexo da comunidade eterna de Deus expressa na Trindade;
O papel do simbolismo em um mundo pós-moderno não é o de recriar o simbolismo cerimonial da era medieval, mas para compreender e aplicar o simbolismo da atmosfera como o sentimento de temor e reverência. Assim como para recuperar a beleza do espaço, e ações simbólicas da adoração e restaurar os sons da música e a atração das artes.
Essas formas simbólicas da presença e verdade de Deus são mediadas para nós. Nessas ações simbólicas, tomamos o conhecido e o levante para o desconhecido para que ele seja devolvido para nós como o mistério do transcendente.
Para este fim, igrejas urbanas com a sensibilidade do pós-modernismo podem empregar a prática de formas de adoração antigas e relevantes, assim como o renascimento da compreensão e ensino sobre raízes judaicas da fé cristã. Por exemplo, algumas destas igrejas têm incluído a Páscoa como parte de seu calendário de adoração, aproveitando esta oportunidade para ensinar alguns aspectos das práticas do AT para as gerações pós-modernas emergentes (KIMBALL, 2004, p. 93).
H. Princípio de integração
A era moderna divide cada aspecto da vida humana em áreas especializadas, resultando em uma sociedade fragmentada e desconectada. Esta divisão é ainda mais visível em uma sociedade urbanizada e pós-moderna. Os moradores urbanos perderam o sentido de tudo — como tudo se relaciona com todo o resto. Por outro lado, os seres humanos foram criados como pessoas inteiras, com dimensões físicas, mentais e espirituais. Por esta razão, os pós-modernos conferem grande importância à abordagem da vida humana como um todo, enquanto procuram envolver todas as dimensões da vida humana em sua experiência pessoal. Poe afirma que “a pós-modernidade rejeitou o conhecimento e a segmentação de experiência. Integração e pensamento holístico tornaram-se características da mente pós-moderna emergente” (POE, 2001, p. 28).
Os pós-modernos anseiam por esse tipo de integração. A verdade como uma mera noção filosófica e conceitual, sentida através de sentimento e ação, não tem sentido para eles (RICHARDSON, 2000, p. 46). Como resultado direto — especialmente por causa da conexão intrínseca entre as dimensões da vida humana — não abordar a integração de todas as dimensões humanas traz sérias consequências para os esforços da missão urbana na condição pós-moderna. Claerbaut afirma:
I. A busca por autenticidade
A autenticidade é indispensável para os pós-modernos emergentes, e isso se torna realidade apenas quando a igreja é real e presente. Esta “presença” é o que missiologistas se referem como ministério encarnacional, o que significa que a igreja deve tornar-se parte da comunidade que busca alcançar.
O principal método pelo qual podemos cumprir nossa missão e tornar Cristo conhecido no mundo pós-moderno, é por se tornar dolorosamente autêntico. Temos de ser real antes de nossas palavras significarem algo. Mesmo assim, a mensagem da nossa vida deve ser muito mais alta do que as palavras que saem de nossas bocas.
Engajar-se aos pós-modernos começa com a tomada de suas perguntas e reservas de forma séria (HENDERSON, 1998, p. 209).
A principal questão em sua mente não é mais “É verdade?”, mas sim, “Isso é real?” (STETZER, 2003, p. 140). Como Jim Wilson (2002, p. 113-114) alega, os pós-modernos se esforçam por uma “comunidade autêntica e pelo incentivo para que as pessoas sejam reais com elas mesmas, com Deus e com os outros”. Para eles, a igreja não precisa ser perfeita; ela só precisa ser autêntica.
A igreja urbana, portanto, deve se concentrar muito mais na presença e nas relações que produzem confiança, em vez de divulgação agressiva pela busca de decisões imediatas. A mensagem comunicada pela vida e presença da igreja urbana torna-se mais importante para os pós-modernos do que a mensagem entregue apenas por palavras. Para este fim, uma oportunidade de servir à sua comunidade e seu mundo é um poderoso instrumento para atrair os pós-modernos a Cristo.
J. A igreja urbana no serviço ao próximo
Gerações pós-modernas emergentes estão procurando por oportunidades que sejam úteis à sua comunidade e o seu mundo. Andrew Black (apud WEBBER, 2002, p. 49) afirma que “esta geração [está] procurando novas maneiras de servir ao próximo […]. Há uma crescente vontade de trabalhar em conjunto para resolver problemas em um nível mais gerenciável.” Pós-modernos, aponta Kitchens (2003, p. 71), estão “interessados em encontrar um lugar para comprometer suas vidas e fazer a diferença no mundo”.
Mesmo através da linguagem não religiosa, os pós-modernos expressam suas necessidades religiosas, tais como a necessidade de sentido e propósito na vida, necessidade de significado, necessidade de fazer uma contribuição e a necessidade de ser necessário. Assim, um dos elementos-chave no engajamento da mente pós-moderna é o serviço (STETZER, 2003, p. 141). Visto que as gerações pós-modernas emergentes começam a interagir e se envolver com a missão da igreja, elas parecem estar particularmente preocupadas com a situação dos pobres nos centros urbanos (WEBBER, 2002, p. 49). Kitchens (2003, p. 72) afirma:
Para eles, não é o suficiente enviar dinheiro para apoiar a missão da denominação ou ajudar a financiar alimentos ou abrigo. Os pós-modernos desejam enviar a si mesmos, não apenas seus dólares para a missão. Eles estão procurando maneiras de se envolver diretamente em trabalhar por justiça, proporcionando atos de hospitalidade e serviço e oferecendo cura para aqueles que precisam.
Missões de curto prazo são também uma poderosa forma de envolver os pós-modernos no serviço. Os pós-modernos gostam de viajar; consequentemente, estar em outro ambiente cultural e ver Deus usá-los é uma experiência marcante para a mente pós-moderna. Além disso, quando os pós-modernos colocam suas mãos em um projeto, sua mente e coração se tornam inteiramente ligados ao serviço.
Assim, a experiência pessoal que as missões de curto prazo proporcionam não é rápida ou facilmente esquecida na mente pós-moderna (CELEK; ZANDER, 1996, p. 140).
Os pós-modernos veem que a fé autêntica produz verdadeiro serviço e a validade da fé cristã é confirmada, assim a experiência particular de servir os outros pode levá-los mais longe em sua jornada com Cristo. A igreja urbana, portanto, deve oferecer oportunidades para desafiar os pós-modernos a se envolver no serviço de suas comunidades locais e globais.
K. Os princípios para contar histórias
Nas sociedades antigas, o uso da narrativa foi um dos elementos vitais para organizar a vida. (19 As histórias míticas são provas claras de que as sociedades antigas usavam narrativas para registrar os fatos de suas origens e os assuntos de seus deuses. No início, essas histórias míticas tiveram uma interpretação cíclica do tempo, como é evidente nas histórias religiosas, por exemplo, do Egito e da Grécia, bem como nas narrativas sagradas de outras sociedades antigas do Oriente Médio (ver GRENZ, 1999, p. 87).
Da mesma forma, durante várias centenas de anos a cultura ocidental foi baseada na tradição bíblica e guiada pela narrativa abrangente das ações de Deus na história humana. Durante o desenvolvimento do Iluminismo baseado na visão de mundo moderno, contudo, a secularização das narrativas históricas reduziu drasticamente a importância das histórias para trazer sentido à vida das pessoas (CELEK; ZANDER, 1996, p. 140). Hahn e Verhaagen (1998, p. 24) comentam sobre isso:
Na busca de identidade a igreja urbana pode ser um mestre contador de histórias.
L. A Busca por identidade
Devido o fato dos seres humanos terem sido criados com curiosidade, complexidade e uma profunda necessidade de significados, o desejo pós-moderno em compreender as questões maiores da vida abriu o caminho para o uso da narrativa como um instrumento eficaz para atingir os pós-modernos. Isto ocorre porque a vida para eles é em si um drama ou uma narrativa.
Uma das principais preocupações na mentalidade pós-moderna gira em torno do desenvolvimento de histórias que podem definir a identidade pessoal e dar propósito e forma à existência social dentro de uma determinada comunidade (ANDERSON, 1990, p. 107-108). Escrevendo sobre a importância e poder das histórias em encontrar a própria identidade, Annette Simmons (2002, xvii) afirma: “Todo mundo tem um coração. Todo mundo, no fundo, quer se orgulhar de sua vida e sentir como eles são importantes — esta é a veia de poder e influência [de] contar histórias”. (Argumentando sobre a influência de histórias na busca humana por identidade, Richard Stone escreve: “Quando reconhecemos que nossas aspirações mais profundas não podem ser satisfeitas por uma cultura que tem reduzido o sentido da vida a um banquete de sentidos e posses materiais, devemos procurar novas fontes de significado e lutar com as mesmas perguntas que desafiaram os nossos antepassados […]. Suas histórias podem nos levar a uma compreensão mais profunda de nossas origens e para onde estamos indo” (STONE, 1996, p. 3).)
Graham Johnston, por sua vez, afirma que “as histórias nos colocam em contato com as pessoas em um nível de humanidade compartilhada. Contar histórias pode prender a imaginação do ouvinte e ajudar as pessoas a identificar-se com uma ideia, de uma forma que desencadeie importância e significado” (JOHNSTON, 2001, p. 155).
Em seu estudo pioneiro sobre a influência de contar histórias, Anderson e Foley afirmam que as histórias têm o poder de envolver nossas mentes, especialmente porque a nossa própria existência está organizada em forma de narrativa. A experiência humana é estruturada no tempo e na narrativa. Nós compreendemos nossas vidas não como ações desconectadas ou eventos isolados, mas como termos de uma narrativa.
Nós idealizamos nossa vida como uma teia de histórias — uma novela histórica ou uma minissérie no ar. Nós pensamos em histórias, a fim de tecer juntos em uma coerente sucessão interminável de pessoas, datas e fatos que enchem nossas vidas. O modo narrativo, mais do que qualquer outra forma de autorrelato, serve para fomentar o sentido de movimento e processo da vida individual e comunitária. Nesse sentido, a estrutura narrativa é uma necessidade humana. Histórias nos unem e também nos mantêm separados. Contamos histórias a fim de viver (ANDERSON; FOLEY, 1998, p. 4). Além disso, contar histórias é um importante instrumento para estabelecer significado e integrar o próprio passado e futuro com o que é observado no presente. Em outras palavras, contar histórias é uma forma primária de expressão humana de quem somos, de onde viemos e o que antecipamos em nossas vidas (MCADAMS, 1997, p. 27; ver ANDERSON; FOLEY, 1998, p. 5).
Portanto, a busca humana por identidade requer inequivocamente, em maior ou menor grau, o desdobramento de nossas origens. Esta é uma das razões básicas para a importância de conhecer as histórias relacionadas com o nosso nascimento.
No entanto, a busca humana final por identidade só pode ser encontrada em Deus, a fonte original da vida humana (Sl 139: 13-14). Henderson afirma, “A identidade é tecida em nós como seres criados. A questão não é de fazer a nossa identidade, mas descobri-la. Da mesma forma que um artista valoriza uma obra de arte, Deus tem prazer em nos valorizar. A identidade não pode ser encontrada fora daquele que nos criou” (HEMDERSON, 1998, p. 215).
Neste contexto, existe uma ponte natural à proclamação do evangelho para a mente pós-moderna por meio de uma história narrativa. Na história de Deus sobre a vida e seu significado, os pós-modernos podem finalmente vir a compreender a si mesmos e o mundo ao seu redor em sua busca pela identidade pessoal e coletiva (GELDER, 2000b, p. 38).
M. A igreja urbana como mestre contador de histórias
Para se comunicar de forma eficaz com a condição pós-moderna, a igreja urbana deve ter a capacidade de pensar de forma criativa e de se adaptar sabiamente. Para este fim, uma crescente confiança em contar histórias pode ser uma maneira eficaz para encorajar decisões para Cristo entre os pós-modernos. Apesar de sua rejeição às metanarrativas, os pós-modernos dão grande valor sobre o poder da história, histórias especialmente reais (ANDERSON; FOLEY, 1998, p. 3-19). Mercer (1995, p. 336) afirma que a mente pós-moderna reconhece que a identidade pessoal “é experimentada na história de vida desdobrando-se de momento em momento e cruzando a vida dos outros com a mudança de imagens e crenças”.
Um discípulo é convencido em seu coração que sua vida não é uma série de eventos desconexos, aleatórios, mas que ela é um jogador no maior drama de todos os tempos, o drama de um Deus apaixonado, mas rejeitado por sua amada. Este é um Deus que entra no espaço e no tempo em uma missão de resgate cósmico para capturar corações e vidas para um dia fazer novas todas as coisas.
Quando a história de Deus começar a desafiar as histórias pessoais e locais de pós-modernos, suas mentes serão tocadas em um lugar onde os fatos as informações cognitivas rejeitadas anteriormente poderão agora ser recebidas e uma transformação poderá eventualmente ocorrer.
O único oferecido por um rei em uma cruz, o único oferecido por um leão conquistador que acaba de abater uma ovelha. Esta é a garantia de que não é totalitária. Pentecostes, se corretamente entendido, é também a garantia de que não é homogeneizada.
Isso é mais apropriado para deixar. Igreja Relevante a história de Deus ganhar credibilidade para si mesma, como o Espírito Santo trabalha para trazer o coração pós-moderno a sérias reflexões sobre a fé cristã. Miller (2004, p. 41) pergunta: “Podemos confiar nosso povo [candidatos a pós-modernos] e Espírito Santo, o suficiente para permitir-lhes a pensar por si mesmos? Podemos deixar algo em aberto sabendo que a conclusão pode não vir até o fim da tarde daquele dia, semana, mês ou ano?” Estas são questões sérias que as igrejas urbanas devem ser capazes de responder se o foco de sua missão é de fato alcançar a mente pós-moderna para Cristo.
N. El Síndrome del ascensor.
"Cuantas más personas uno pone en el ascensor, menos se comunicarán unos con otros" (Bakke, 2002, 107).
Resumo
A mudança de paradigma de moderno para pós-moderno traz um momento de incerteza e ao mesmo tempo repleto de desafios e oportunidades para a missão urbana. Por causa das forças motrizes da urbanização e da globalização, a condição pós-moderna nos convoca especialmente para uma reavaliação da estratégia e dos métodos da missão urbana que foram previamente desenvolvidos para atingir os indivíduos orientados pela visão de mundo moderno.
A transição de um mundo moderno para outro pós-moderno revela uma mudança a partir de uma cultura baseada na razão de uma cultural baseada na experiência; a partir de uma cultura baseada na produção para uma cultura baseada no consumo; a partir de uma cultura baseada na confiança no futuro para uma cultura baseada no pessimismo do presente (e ignorância do passado); a partir de uma cultura baseada em palavras para uma cultura baseada em bytes; e a partir de uma cultura baseada no local ou global para uma cultura baseada no glocal.
Certamente, todos os deslocamentos acima têm implicações profundas para a missão da igreja urbana. Por outro lado, a missão urbana para a condição pós-moderna pode ser baseada em certos princípios aplicáveis nas sociedades urbanas ocidentais.
Na busca pós-moderna por pertencimento, a igreja urbana deveria ser a comunidade para pertencimento.
Na busca pós-moderna por imagens, a igreja urbana deveria ser um lugar de experiências multissensoriais.
Na busca pós-moderna por significado, a igreja urbana deveria ser um lugar em que as raízes da fé cristã são apresentadas e compreendidas.
Na busca pós-moderna por autenticidade, a igreja urbana deveria ser um lugar de verdadeiro serviço aos outros.
Na busca pós-moderna por identidade, a igreja urbana deve narrar a grande história que acabará por transformar a mente pós-moderna.
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